Celebração de envio encerra o 3º Congresso Vocacional
O entusiasmo e a alegria marcaram o encerramento do 3º Congresso Vocacional do Brasil, realizado pela CNBB, através da Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada. O encontro começou na sexta-feira, 3, na Casa de Retiros Vila Kostka, em Itaci, município de Indaiatuba (SP).
“Pudemos experimentar de novo como Deus vem ao encontro de cada um de nós. Se somos amados, se a medida de Deus é transbordante com cada um de nós, como não corresponder a este amor?”, disse o presidente do Congresso, dom Leonardo Ulrich Steiner na cerimônia de envio que marcou o encerramento do evento.
“Partimos daqui rendendo graças por que fomos cumulados da graça de Deus. Quando cada um de nós se sentir um discípulo missionário a serviço das vocações estamos enriquecendo nossa igreja da presença do crucificado-ressuscitado”, acrescentou o bispo. “Onde há transparência da bondade do amor de Deus não faltam vocações. Neste tempo de luzes e sombras, talvez falte a percepção de como somos amados”, acrescentou.
Participaram do Congresso 386 animadores vocacionais, sendo 75 leigos e leigas, 122 religiosas, 2 freis, 12 diáconos, 159 padres e 16 bispos. Os congressistas aprovaram, na manhã de hoje, um documento que será divulgado brevemente pela Comissão para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da CNBB.
O documento tem uma estrutura simples e faz uma síntese das três conferências feitas pelos assessores, além de sugestões dos congressistas para o Serviço de Animação Vocacional e Pastoral Vocacional (SAV/PAV).
Presidente da CNBB preside última missa no Congresso Vocacional
O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e arcebispo de Mariana (MG), dom Geraldo Lyrio Rocha, deixou uma mensagem de otimismo e esperança para os participantes do 3º Congresso Vocacional, que termina ao meio dia de hoje, em Itaici, município de Indaiatuba (SP). Ele presidiu a última missa do encontro, que reuniu 385 animadores vocacionais.
“Este evento possibilitou celebrar a caminhada do serviço de animação vocacional, aprofundar a teologia das vocações, consolidar a identidade do(a) animador(a) e fortalecer o serviço de animação vocacional no Brasil”, disse o presidente da CNBB.
Dom Geraldo lembrou o evangelho lido na celebração que narrou a escolha dos apóstolos feita por Jesus. “A vocação dos apóstolos, como toda vocação tem sua raiz no encontro com Jesus Cristo que, no mistério da Páscoa e do Pentecostes os transforma em fiéis discípulos e ardorosos missionários”, recordou.
O arcebispo recorreu ao Documento da Conferência de Aparecida, realizada em Aparecida (SP) há três anos, para descrever a Pastoral Vocacional. “No que se refere à formação dos discípulos e missionários de Cristo ocupa um lugar particular a pastoral vocacional, que acompanha cuidadosamente todos os que o Senhor chama a servir à Igreja no sacerdócio, na vida consagrada ou no estado laical”.
O catarinense dom Leonardo Ulrich Steiner, 59, é bispo da prelazia de São Felix do Araguaia, no Mato Grosso, há cinco anos. A serenidade é uma das marcas deste franciscano que tem doutorado em filosofia e é membro da Comissão Episcopal para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da CNBB. Ele preside o 3º Congresso Vocacional do Brasil, que reúne, desde sexta-feira, 3, em Itaici (SP), 385 animadores vocacionais de todo o país,. O Congresso debate o tema “Discípulos missionários a serviço das vocaçoes”.
Nesta entrevista exclusiva à Assessoria de Imprensa da CNBB, dom Leonardo explica que o Congresso Vocacional não é para ensinar técnicas ou métodos para conseguir mais vocações. “A experiência cristã, o seguir Jesus Cristo, o ser encontrado por Ele é uma experiência única. É a nobreza de Deus de nos ter escolhido e nos deixar participar do mistério de seu amor. Isso não é [ensinado] com técnica, com método, mas com o espírito, com abertura”.
Dom Leonardo fala também das crises por que passa a sociedade atual e lembra que as pessoas tentam equilibrar sua existência a poder da química, inclusive os jovens, com as drogas. “Ficamos espantados com o número cada vez maior de farmácias. É o primeiro tempo da história da humanidade que se usa a química para tentar equilibrar a existência humana”.
Dom Leonardo explica, ainda, o número reduzido de leigos neste 3º Congresso e destaca a qualidade de sua participação no evento. “Como participaram com disposição e alegria!”.
Leia, abaixo, a íntegra da entrevista.
1. Que elementos o senhor destaca como ponto alto deste congresso e para onde eles apontam?
Dom Leonardo: O primeiro elemento importante é o pré-congresso, que foi uma verdadeira descoberta. Não quisemos congregar as pessoas em Itaici sem antes termos estudado um texto, trocado ideias, experiências; sem termos feito nas paróquias um bom trabalho e realizado nos Regionais da CNBB os chamados pré-congressos. Em alguns Regionais a Pastoral Vocacional (PV) conseguiu se rearticular para o pré-congresso. Isso foi um ganho para a Igreja no Brasil.
O segundo elemento foi tentarmos trazer a beleza e a profundidade do Documento de Aparecida para a PV. Se na nossa Pastoral Vocacional conseguirmos fazer ver que todo batizado é um discípulo missionário a serviço das vocações, estamos levando a intuição da Conferência de Aparecida até nossas pequenas comunidades. Não apenas veremos as vocações, mas a intuição de Aparecida de que cada batizado, cada cristão, cada católico é aquele que vive de Jesus, anunciando Jesus, ouvindo a sua palavra, convivendo, sendo sinal do Reino.
Um terceiro elemento importante é a troca de experiência. O fato de termos aqui pessoas vindas de todo o Brasil, com mentalidades e experiências diversas; Igrejas que têm sua pastoral, suas dificuldades e seu entusiasmo, fez com que os congressistas começassem a perceber que a Igreja no Brasil é extremamente rica. Esta troca de experiência fez com que os congressistas percebessem que existem experiências que podem ser partilhadas. Chamo atenção, por exemplo, para a escola para formação de animadores vocacionais nos Regionais Sul 3 e Centro Oeste. Não uma escola de formar padres, mas de formar discípulos missionários que vêm, participam e se responsabilizam pela animação vocacional na nossa Igreja no Brasil.
2. O senhor disse que o Congresso não é para ensinar técnicas ou métodos para buscar vocações. Pode explicar melhor esta afirmação?
Dom Leonardo - No tempo que vivemos da ciência e da técnica, da virtualidade, poderíamos imaginar que um congresso iria nos dizer o que fazer e como fazer. Isto é, viemos aqui, ouvimos, voltamos para casa e agora vamos executar. A intuição do Congresso foi outra. Foi a de nos deixar guiar pelo espírito [da Conferência] de Aparecida e suscitar esse imenso desejo de ser discípulos missionários a serviço da Igreja.
Explicando melhor: a experiência cristã, o seguir Jesus Cristo, o ser encontrado por Ele é uma experiência única. É a nobreza de Deus de nos ter escolhido e nos deixar participar do mistério de seu amor. Isso não é [ensinado] com técnica, com método, mas com o espírito, com abertura. Deste encontro, deste dar-se conta da nobreza de Deus é que, certamente, vão abrir-se para nós elementos e pistas.
Numa entrevista me perguntaram: ‘Como anunciar Deus hoje?’. Respondi: ‘como, eu não saberia dizer. Talvez conseguisse dizer quem, qual a pessoa a ser anunciada hoje, ou seja, este Deus tão próximo de nós’. Tentei dizer isso na homilia [na celebração de abertura do Congresso] ao falar: “Deus, osso de nossos ossos, carne de nossa carne’. Nicolau de Cusa chega a dizer “o não outro de Deus”.
3. Os congressistas têm usado aqui a expressão ‘vocacionalizar a Igreja’. O que eles querem dizer com este neologismo?
Dom Leonardo – É a primeira vez que ouço [esta expressão] também. Este verbo [vocacionalizar] não existe, mas hoje se criam tantos verbos e palavras, que talvez esse também fique. Sinto nas colocações que ‘vocacionalizar’ quer dizer que toda a Igreja está apta, atenta, aberta para o serviço e animação vocacional. É toda ela ministerial, toda ela ajudando nossas crianças, adolescentes, jovens e os adultos a descobrirem qual é o chamado de Deus. Ajudar os nossos adultos a redescobrir a grandeza do amor primeiro o ‘por que abracei uma vocação?’. ‘Vocacionalizar’, então, é levar toda a Igreja a ser.
4. Um Congresso Vocacional pensa e fala sobre todas as vocações. No entanto, a presença dos leigos aqui é pequena e o senhor ressaltou esse detalhe num determinado momento do encontro. A que o senhor atribui isso?
Dom Leonardo - A primeira observação feita por uma leiga depois da minha fala foi a dificuldade dos próprios leigos terem meios econômicos para virem. Ela mesma disse: ‘eu sou professora, sou mãe, sou avó’ e falou da dificuldade de deixar o trabalho e vir [ao Congresso]. Não é tão simples o Norte e o Nordeste virem até São Paulo. O que nos falta ainda como Igreja no Brasil é começar a nos despertar para os discípulos missionários a serviço das vocações. O próprio tema do Congresso talvez possa ajudar para que, no próximo Congresso, se houver, a participação dos leigos seja maior. Mas a participação dos leigos neste Congresso foi muito positiva. Como participaram com disposição e alegria!
5. Isso não se deve, então, a uma visão reducionista como se vocação fosse apenas para padres e os de vida consagrada?
Dom Leonardo - No trabalho feito na Comissão Episcopal para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada em relação ao mês de agosto dedicado às vocações, por exemplo, não temos mais acentuado uma das vocações. Pelo contrário, temos aproveitado este mês vocacional para trazer à recordação as grandes vocações dentro da Igreja. Esse esforço existe e está muito presente. Na nossa Comissão isso é muito claro e sinto isso também nas discussões da CNBB. Naturalmente que existe uma preocupação grande, sinto isso também aqui no Congresso, em relação às vocações para o presbítero e para a vida consagrada, seja na vida religiosa ou nos Institutos Seculares. Existe esta preocupação porque, em relação aos padres, sentimos a grande necessidade, dentro da Igreja, de termos uma presença maior para servir melhor nossas comunidades. Sentimos, ainda, a dificuldade de muitas Congregações terem novas vocações. Há congregações, inclusive, com dificuldade de dar continuidade a certos serviços na Igreja do Brasil.
6. O teólogo, padre Agenor Brighenti, um dos assessores do Congresso, disse que o mundo vive uma crise generalizada. Fala-se também de crise vocacional, inclusive da vocação para o matrimônio. Como o senhor vê as vocações neste contexto de crise?
Dom Leonardo - Estamos num outro tempo. Isso é real. No Documento de Aparecida e nas Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil está presente a expressão que estamos numa ‘mudança de época’. Estamos entrando num outro tempo. Olhando para trás achamos que foi tranqüila a passagem do antigo para o medieval; do medieval para o moderno. Achamos essas mudanças normais porque não estivemos lá. A idade média, por exemplo, foi um tempo de passagem muito duro. Basta estudarmos bem a história da Igreja e os intelectuais da época para entendermos todo este novo tempo que estava surgindo. Eram escolas inteiras atrás de compreender como era a questão do mistério da encarnação de Deus. Tenho a nítida impressão de que estamos num tempo de passagem e este tempo é salutar. O que virá, a gente não sabe.
O autor que pesquisei para minha tese doutoral sobre o conceito de Deus já escrevia nos anos 1970 dizendo que devíamos nos preparar melhor para o novo tempo que estava por vir, isto é, ir nos abrindo mais, ir tentando compreender cada vez mais. Isso tudo à luz do Evangelho, da Palavra de Deus, do evento de Deus. Que nós estamos nesta crise é evidente. Às vezes nem compreendemos mais em que situação nos encontramos quando vemos, por exemplo, o grande número de pessoas (casadas) que se separam; dos que deixam a vida religiosa e o sacerdócio; das pessoas que se suicidam e das que estão em depressão. Ficamos espantados com o número cada vez maior de farmácias. Vivemos hoje da química para tentar equilibrar nossa existência. É o primeiro tempo da história da humanidade que se usa a química para tentar equilibrar a existência humana.
7. Isso se aplica também aos jovens?
Dom Leonardo – Claro! Por que da droga? A droga é química. Então, estamos neste tempo, não adianta negar. É preciso abrir os olhos, mas os olhos da fé, como dizia Santo Agostinho. Outros olhos não entendem o perpassar de Deus dentro desse tempo. Outros olhos não entendem que ali estão as sementes do Verbo. Como somos sempre, a partir do evangelho, homens de esperança, precisamos entrar dentro deste tempo para que consigamos perceber a presença de Deus, que está presente em todas estas questões que não compreendemos – aliás Deus não é aquele que compreendemos, mas uma eterna revelação -, e ajudar a fazer surgir o novo. Quero dizer com isso que a vida do evangelho tem algo a dizer. Crise quer dizer acrisolar, purificar.
8. Nada disso, então, deve desanimar os promotores vocacionais?
Dom Leonardo - Ao contrário, isso é para provocar, é para dizer: ‘tem algo aí se acrisolando’, que está nascendo. Como está nascendo o evangelho aí dentro? Não sabemos, mas isso é o grande desafio de nosso tempo: não saber e confiar. Isso é fé.
9. Os congressitas perceberam isso? Ficaram animados?
Dom Leonardo - Para se ter uma ideia, mais de 20 pessoas vieram me agradecer o Congresso, dizendo que ajudou muito, que os assessores foram muito bons, que a troca de experiências nos grupos e nas mini-plenárias foi muito boa. Sinto que existe um ânimo. Não sei se o Congresso será suficiente para intuir a passagem do tempo em que estamos. Provavelmente não. Sit. CNBB